quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal

Experimentem fazer como este Pai Natal: Bebam um tintinho alentejano e depois leiam esta pérola do Pessoa. E será o vosso melhor Natal de sempre.

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

terça-feira, dezembro 12, 2006

Uma vida normal



Se eu percebesse de cinema, chegava aqui e atirava com propriedade que Joaquim Leitão é o realizador de “Uma Vida Normal”, filme que já vi há uma boa quantidade de anos e do qual só me lembro – não querendo, nem por sombras, desprestigiar a obra - pelo facto de numa passagem aparecer um dos personagens a ligar o rádio, sintonizado na TSF, onde uma pivot das notícias anuncia o meu nome com todas as letras “Paulo Nobre” em reportagem num incêndio qualquer ocorrido há pelo menos 850 anos.
Portanto, se me enganar no nome do realizador, desculpem-lá-qualquer-coisinha-que-não-foi-com-intenção. Até porque nem estou aqui para falar do filme. Apenas me interessa o título: “Uma Vida Normal”.

Devo dizer que só tenho uma vida normal há prái três anos, coisa assim, porque isto dos filhos obriga a sacrifícios tais que o meu avô se fosse vivo e me ouvisse dizer isto, lá do alto da sua experiência de 15 herdeiros, haveria de rebolar-se no chão a rir, para além de me retirar da lista dos entes a quem entregar os bens na hora da morte.

Há largos anos, muito antes de iniciar o curso de Vadiagem, variante Vinhos e Petiscos, mestrado na UNICER e doutoramento sobre Cereais e Frutos Aplicados no Fabrico de Matéria Cervejante concluído em Estrasburgo na famosa Académie de la Bière, há largos anos, dizia, que tinha optado por passar pela cama um máximo de quatro horas – cinco nas melhores noites. Sempre achei que a grande hora de deitar se situava entre as seis e meia e as sete… da manhã. Achei sempre que deveria haver um decreto que justamente decretasse proibição de acordar e levantar da cama antes do meio-dia.

Andei tantos anos pressionado para mudar de vida que só senti algum reconforto quando um dia acordei num quarto de hotel em Dublin, abri uma revista do Expresso que levara de Portugal quase quinze dias antes e me deleitei com uma entrevista do ministro das Finanças, à altura, Sousa Franco. Com a propriedade de um ministro, dizia que “um homem nunca deveria levantar-se antes do meio-dia” de modo a que tivesse um bom aproveitamento da noite, e fazia umas tantas considerações sobre a forma de arrumar um escritório: depositando papéis no chão, em pequenos montes, separados por meses. “Pode levar tempo a consultar, mas sabemos que está lá”, afirmava com palavras de homem sério, que valem mais que as de ministro.

Uma luz de esperança acendeu-se na minha alma. Finalmente alguém com sucesso na vida - que até era ministro e logo das Finanças – partilhava as minhas opiniões sobre arrumação e leis sobre “get up in the morning” - uma discussão que anda arredada da sociedade portuguesa. Logo depois pensei, algo horrorizado, aterrorizado até: “Se não me ponho a pau, ainda chego a ministro! Vá de retro!” – e bati três vezes na madeira da cama.

Bom, mas, fiquei tão estimulado por haver um ministro a pensar como eu que comemorei da melhor maneira, estando longe de pensar que da comemoração haveria de sair o mal de que agora me queixo: uma filha. Porque foi ela que me “obrigou” – com as devidas aspas – a passar a ter a vidinha típica do português comum, baseada na livre adaptação do ditado “deitar cedo e cedo erguer, porque amanhã é dia de trabalho”.

Pois dizia, que há três anos despontei para aquele tipo de vidinha que parece ser a da maioria dos portugueses. E fiz uma descoberta para a qual vou começar a contribuir com estudo científico a publicar mais tarde numa dessas revistas de renome mundial.
Já sei porque é que os portugueses lêem pouco. Nã, nã, nada tem a ver com o elevado preço dos livros e outras fórmulas, fábulas e tretas que os mais ou menos entendidos vendem por aí. Pura banha da cobra.

O portuguesinho não lê porque se deixa dormir. “O QUÊ???” – perguntam mentalmente na solidão do vosso escritório. Digo de novo: deixam-se dormir a ler. É por isso que não lêem.

Esta é uma constatação cuja configuração comecei a perceber justamente de há três anos para cá. A minha capacidade de leitura começou a ficar diminuida a partir do momento em que passei a exercer o “deitar cedo e cedo erguer, que amanhã é dia de trabalho” ao qual acrescentei “e tenho de levar a rapaziada à escola”.
Passei a levantar-me às sete da manhã, hora precisa a que o hábito me mandava deitar.

O pior foi depois. Quando, noite dentro, peguei nos livros, comecei a perceber, ao fim de três ou quatro noites, que apesar de várias horas pegado ao último romance de Lobo Antunes, a página era sempre a mesma.
Mudei de escritor, troquei de romance, peguei nos clássicos policiais – Le Carré à cabeça – e… nada. Pepetela ficou à espera. Nem Mia Couto, nem Sepúlveda, que me habituara a ler aos pares durante a noite. Nada.
O húngaro Sandor Marai é a última vítima da minha incapacidade. Já vou em quatro noites e não consegui passar da página 18. Ainda antes das duas da manhã, dou por mim encostado. Mão na cara. Cabeça pendente, quase a derrubar a jarra das flores secas que às vezes serve de apoio ao livro.

Dantes, quando entrava numa livraria, via livros. Para ler.
Agora, entro na FNAC e sinto-me ultrajantemente apaixonado por todas aquelas páginas que desconfio não ser capaz de levar à certa e consumar o acto amoroso de as despachar antes de chegar à cama. “Amo-vos a todas!!!, sejam minhas… para sempre!”, - afirma a minha imaginação em profundo deleite. Mas todas as noites elas me viram costas, acomodando-se por debaixo do manto soporífero que antes da entrada da madrugada me tolhe os sentidos.

Estou farto da minha “Vida Normal”.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Sugar kisses


Na linha do post anterior, recordo:
"Lips Like Sugar" dos Echo & The Bunnymen
Lá pelo refrão é possível ouvir "Lips Like Sugar, sugar kisses". Fabuloso. Os sugar kisses e a música.

Pergunto: "Dancez vous, Madame?"




O regresso à escrita estava há muito adiado, mas finalmente chegou o dia. E este não é um dia qualquer. É o dia em que Ségolène visita Portugal.
Perguntam vocês: “Quem é Ségolène?”

Em primeiro lugar devo dizer que se perguntam isso é porque andam a dormir há uns meses.
Em segundo, antes de responder, digo que escrever Ségolène é uma seca por causa dos dois acentos.
Finalmente dizer que Ségolène é a mulher que acaba com o paradigma das mulheres feias na política. Lembrem-se só de Ferreira Leite, de Maria Nogueira Pinto, Golda Meir ou Margaret Thatcher. Ou passem o olhar pelo Parlamento... é de fugir!

Pois Ségolène é a antítese daquelas todas e é a candidata socialista que irá disputar as eleições para a presidência de França no próximo ano.
Olhando para a futura inquilina (acredito eu) do Eliseu - com os seus cinquenta e poucos - apetece dar uma volta e convidar para um jantar romântico seguido de um pé de dança. "Dancez vous, Madame?", pergunto. Espero a resposta doce "Oh! Mais... oui monsieur. Avec plaisir!". Depois o apelido: Royal... hummmm! é melhor que o pudim...
É bonita. Sensual. Um sorriso enfeitiçante. Tem aquele “não-sei-quê” que dá a volta à cabeça de qualquer homem. Podem vê-la hoje, em Lisboa, junto à homenzarrada socialista. Vale mais que perder tempo a olhar a árvore de Natal da Praça do Comércio.

Apesar de tudo, não me iludo. Toda aquela beleza debaixo do animalesco fato político, pré-configura aquilo que muito provavelmente lhe vou chamar dentro de poucos anos: Um verdadeiro Diabo de saias. Platonicamente espero enganar-me.

P.S. - Lembrei-me agora e é bom fazer justiça: está na linha de Teresa Patrício Gouveia, a nossa mais sensual ministra de sempre.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Até sempre...

Passei esta manhã pela Porta Nova. O Zé Luis não estava. No sítio do costume. Onde o vi a última vez.
Fui ao seu encontro. O último.
Cheguei um quarto de hora mais cedo. Ele era “o Zé das pressas”. Não quis atrasar-me.
A Cascata nunca mais será a mesma.

Forte abraço. Até sempre tio.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Tributações

A nova lei do Governo que vai permitir às autarquias impor aos clubes de futebol uma tributação aos estádios de futebol está a gerar confusão dentro do mundo da bola.
Enquanto o novel presidente da liga Hermínio Loureiro já veio contestar a lei, o inefável doutor (por extenso) Madaíl veio aconselhar prudência e bom senso na aplicação da lei, lembrando que no caso dos grandes - Benfica, Sporting e Porto – os estádios foram construídos em prol de um evento que promoveu Portugal. Referia-se, claro está, ao Euro 2004.

Até aqui é só conversa da treta. A grande questão tem a ver com a Câmara de Évora.
Como vai o Doutor (também por extenso e com caixa alta, devido à importância) Ernesto tributar os clubes de Évora?
A política tem sido sempre de equidade quando se fala de Lusitano e Juventude. Para não ferir susceptibilidades, quando se dá um cêntimo a um, repete-se ao outro para evitar confusões.
Mas o problema pode complicar-se.

O Juventude continua a ter o mesmo parque desportivo, considerado de interesse público e que ao longo dos anos muito tem feito pela prática desportiva (e não pelo desporto, que isso aí levar-nos-ia por outros caminhos).
O mesmo é válido para o parque desportivo do Lusitano, carregado de história, local onde se jogaram alguns dos mais importantes jogos da história do campeonato português de futebol.
No entanto, no que respeita ao Lusitano de Évora a autarquia vai ter de decidir.
A tributação recairá sobre o velhinho Campo Estrela que se prevê demolido em breve. Ou, será que haverá um imposto especial sobre o novo campo, situado atrás do sol posto, construído sem a necessária revisão do PDM, ao abrigo de um suposto “interesse público”?

Como isto ameaça não ser pacífico e como a lei dá poder peremptório de decisão às autarquias, já se está mesmo a ver que a Câmara de Évora não irá tributar os campos de futebol da cidade.

Já agora, e a talhe de foice (sem martelo, senão pensam logo que se trata de uma intrusão comunista), começa a ser altura de se saber o que se passa com o estádio construído para o jogo Portugal – Cabo Verde.
- está homologado ou não?
- por que razão não se realizam lá jogos?
- o projecto, como prometido, está a evoluir?
- a câmara de Évora já retirou de lá os benefícios tão propalados na altura do estágio da selecção?
- estão marcados estágios de outras equipas, como se dizia que iria “concerteza” acontecer, depois de se saber que existia este equipamento?

Estas nem sequer são as perguntas mais importantes. São apenas algumas para as quais urge respostas.

quarta-feira, novembro 01, 2006

Budapest 1


O Largo abriu-se ao Leste. Os últimos dias foram dedicados a BUDAPESTE. Lembram-se dos Mão Morta? Pois foi assim, sempre a rock'n'rollar...
Histórias para ir lendo por aqui, à medida que o tempo permitir.

Em cima uma foto de um velhinho Trabant, relíquia em extinção num país onde os 45 anos de jugo comunista é hoje uma mera e distante recordação traduzida em souvenirs para o turista.

sexta-feira, outubro 20, 2006

Sons em 2006

Sons agradáveis neste 2006 que se esfuma
Editors – All Sparks

Outro?

Outro Referendo ao Aborto?
Com uma maioria absoluta no Parlamento e com o próprio Sócrates a incentivar o PS a votar pela despenalização, não se entende o novo referendo.
Ou falta de coragem política ou o senhor Santos das Finanças anda distraído e não fez as contas aos custos de tão inútil acto.

Golpe combinado

Andava por aí a Entidade Reguladora de Electricidade a brincar com o povo e quase aumentava a electricidade em 15,7%, fazendo-nos acreditar que era necessário porque temos andado a pagar pouco (livra!).
Eis senão, quando tudo estava preparado para o grande-golpe-do-ano, surge o super ministro do super governo e diz: “não senhor, quando muito aumenta 6 ou 7 por cento”. Proteja-se o desgraçado do contribuinte. Cheira a esturro não? Ter-se-ão encontrado à esquina, ou foi mesmo combinação de gabinete?

Novo SG... com Jordi

Cheguei a julgar estar surdo. Não estou. Ouvi de passagem o avanço do novo álbum de Sérgio Godinho que deve chegar aos escaparates no início da próxima semana.
Chama-se “Ligação Directa”. Fico directamente ansioso. Pela audição.

Entretanto, já roda por aí o novíssimo de Jordi Savall “Orient – Occident” (ao lado). Imperdível.

terça-feira, outubro 17, 2006

Cigarros Porto

Teimosamente, após várias tentativas, não0 consegui mostrar a pub ao tabaco. Mantenho o post, actualizado com este pequeno texto e espero conseguir mais tarde. A ver vamos, como dizia o cego.

Antigamente, quando vivíamos em ditadura, no tempo da outra senhora, ainda podíamos ouvir estas pérolas da publicidade, numa altura em que a Rádio era menina bonita.
Veio a TV, a globalização e hoje estamos naquela fase persecutória, facista, reaccionária, em que não só não podemos fumar, como não podemos estar ao lado de quem fuma, nem ouvir pub ao tabaco.
Restam-nos estes laivos de liberdade. (espero que funcione)

Greve “à la... câmara”

Greve dos trabalhadores da Johnson Controls em Portalegre. Começou hoje às 6 da manhã. Termina sexta feira à meia noite.

Esta manhã, lá estavam os jornalistas para realizarem a cobertura da greve. Como lhes é vedada a entrada na empresa, ficaram cá fora, na rua, exactamente no local onde, nos últimos tempos, têm passado muitas horas à espera de resultados dos plenários e reuniões negociais.

Trabalhadores em greve, nem vê-los. O que é natural, já se sabia que iam estar dentro da fábrica. Só que para um repórter de televisão, não dá muito jeito cobrir a greve sem imagens.
Vai daí os repórteres das televisões ligaram para a Comissão de Trabalhadores e expuseram o problema. Resposta pronta do outro lado da linha:
“Assim que vocês quiserem, avisem que a gente sai prá rua e paramos aí uns camiões”.
Com a combinação feita, foi só ajeitar os horários e os tempos dos directos e das peças.

Uma verdadeira greve “à la... câmara”.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Poetas...1

DECADE

When you came,
You were like red wine and honey
And the taste of you burnt my mouth with its sweetness.

Now you are like morning bread, smooth and pleasant.
I hardly taste you at all for I know your savour,
But I am completely nourished.

Amy Lowell

Distracção nocturna

Nick Cave - The Ship Song (video)

Uma canção extraordinária. Há anos que me acompanha.

quarta-feira, outubro 04, 2006

Cabidela é que é...

Vieram chef’s de todo o mundo. Até do Líbano - de Israel não, por acaso. De 19 países. Participaram no Concurso Mundial de Receitas de Arroz.
Ele era Risotto cremoso de ancas de rã. Calabacines relleños com salsa avgolemono. Sayadieh de peixe. Arroz de lavagante em panela de barro andina. Bem...
No fim, chega o grande chef português Vítor Sobral e... PIMBA! Ganha o título mundial. Com um simples Arroz de Cabidela. Má nada!

Já agora, instruamo-nos um pouco sobre esta referência nacional:

Cabidela: Prato tradicional, difundido em todo o país, feito geralmente de galinha cortada em pedaços e guisada num molho feito com o sangue não coagulado da ave. (Diz-se também galinha ao molho pardo).
Originária de Portugal, onde era feito com os miúdos e extremidades – ditas cabos, donde o nome do prato -, a cabidela também pode ser feita com outras aves, como pato, ganso, marreco, galinha-d’angola, etc., embora seja a galinha a mais utilizada. O sangue é colhido no momento do abate e misturado com um pouco de vinagre para que não coagule. Os temperos mais comuns incluem pimenta-do-reino, alho e cominho.


Como amanhã é feriado, matem a galinha hoje e... aqui vai a receita:

Arroz de Cabidela
Ingredientes :
1 galinha ;
0,5 dl de azeite ;
3 colheres ( sopa ) de vinagre ;
1 cebola grande ;
2 dentes de alho ;
100 gr de toucinho ;
1 folha de louro ;
1 malagueta ;
1 tigela de arroz ;
Sal q.b.
Confecção :
Aproveite o sangue da galinha deitando-o numa tigela com três colheres de sopa de vinagre para que não coalhe ( como alternativa ao sangue da galinha consulte o seu talho ).Numa panela ponha a refogar no azeite a cebola e os alhos picados.Junte-lhe a galinha cortada aos bocados pequenos e os miúdos ( excepto o fígado ), o toucinho cortado, o louro e a malagueta cortada ao meio.Refogue tudo, tempere com sal e deixe estufar em lume brando.Cubra a carne com água quente, tape a panela e deixe cozer até a galinha ficar macia.Depois de cozida retire a galinha e rectifique a água para que fique na proporção de 3/1 para a cozedura do arroz. Assim que levantar fervura junte o arroz.Três ou quatro minutos antes de ficar pronto junte o sangue, misture-o bem, junte também a carne e deixe apurar.

Receita em http://www.gastronomias.com

segunda-feira, outubro 02, 2006

Foram cardos, são espinhos

Segunda feira. Manhã cedo. Semana de trabalho à porta. Só apetece conversa da treta.
Seja!

Notícia (Correio da Manhã - 1/10): "Manuela Moura Guedes vai voltar a cantar, confirmou ao CM a própria jornalista."

A reacção:
A Associação Nacional de Farmácias informou esta segunda feira ter "inexplicavelmente" esgotado o stock em todas as farmácias do país de tampões para os ouvidos. "Também há muitos anos que não se vendia tanto saco de algodão", terá dito o presidente da daquela associação.

quinta-feira, setembro 28, 2006

Lágrima no canto do olho

Camarada de luta em jornadas jornalísticas, José Coimbra reflecte neste texto um pouco daquilo que perpassa pela alma de muitos que não encontram outro remédio senão viver neste país.
Vai na íntegra, com abraço solidário à mistura.

Vamos ao Circo!


São três da tarde e estou deveras chateado com a vida, não só com a minha, mas com a deste país meio-vivo para não dizer quase morto. Quem escuta a nossa classe política e lhe dá ouvidos, e dar ouvidos nem sempre é sinónimo de pensar no que se ouve, até pode considerar que a crise começa a ser coisa do passado. O presente e o futuro trarão mais oportunidades de emprego, salários mais elevados, melhores condições de vida, um Estado social mais justo. O primeiro – ministro fala disto à boca cheia, com a certeza de quem está a construir uma política estratégica para os próximos 30 anos, do alto da sua arrogância e do seu autismo, ignorando a realidade vivida por milhares de portugueses. Entristece-se, diz, sempre que uma empresa fecha as portas e compreende o desespero dos trabalhadores, ao mesmo tempo que os administradores dessas mesmas empresas põem os seus porsches a funcionar e acenam na derradeira despedida. Entristece-o, o despedimento de milhares de trabalhadores mas discursa com um toque que deixa transparecer que a vida é mesmo assim. Fala seguro na posição de quem não tem que gerir um orçamento familiar com um ou dois ordenados mínimos, quando assim é, ou na incerteza da instabilidade laboral. E isto até lhe dá força para continuar a desenvolver políticas que apostam sobretudo na entrega de quase tudo ao sector privado. Deveria ser motivo, também, para os trabalhadores (que deixaram de o ser) ganharem força para reorganizar suas vidas. Como? Sempre podem fazer umas plásticas e fazerem-se passar por trabalhadores novos e activos, cheios de pujança para começarem do zero; podem forjar diplomas e em vez de terem o 9º ano ou menos de escolaridade, apresentaram-se como licenciados e promissores quadros superiores. Senhor primeiro-ministro, muitas dessas pessoas têm entre quarenta e cinquenta anos; senhor primeiro-ministro, muitas dessas pessoas têm uma baixa escolaridade; senhor primeiro-ministro, muitas desses trabalhadores não vão conseguir outro trabalho na vida e os que conseguirem farão uns biscates sem pagar os respectivos impostos.

E os jornalistas, em particular, e os órgãos de comunicação social em geral, claro está, cumprem os desígnios do Exmo. Sr. primeiro, não fossem arranjar complicações de maior a quem parece estar sempre a gritar com um megafone colado à boca, bem no meio da arena do circo da propaganda política governamental. Para os media, o que importa é captar o momento em que o ex-operário fabril grita e chora, condição fundamental para apimentar a abertura do telejornal. A resposta da administração, na maior parte das vezes, já sabem qual é: “ninguém da administração se mostrou disponível para prestar declarações”. E como é sempre a mesma resposta, já nem vale a pena tentar a pergunta. Um minuto e meio de choro e gritaria é o suficiente para a máquina mediática converter audiências em publicidade e publicidade em lucro. Digamos que os media, neste espectáculo circense com várias arenas em cena simultaneamente, são como os anões que aparecem quando menos se espera e que, na maioria das vezes, entretêm mais que os palhaços. São desastrados e nunca fazem nada correcto a não ser entreter com o que fazem de errado.

E neste circo somos todos espectadores, ou pelo menos todos fazemos figura de espectadores, autorizados a bater palmas quando as manobras circenses correm bem. Mesmo que alguém caia do trapézio, batemos palmas, porque o que conta é a intenção, é o esforço da tentativa. E já que o governo se está a esforçar tanto, para quê denegrir a sua imagem mesmo quando alguma coisa corre mal? O melhor é apertarmos a bola vermelha que temos no lugar do nariz e bater palmas como as focas domesticadas.

E porquê chatearmo-nos com o que quer que seja. Senão vejamos: está a aproximar-se o fim-de-semana, vai haver futebol e o domingo, se deus quiser, apresentar-se-á soalheiro para podemos ir todos até às lavagens automáticas de automóveis puxar o lustro ao nosso tuning artilhado até ao chassi. Depois enfiamo-nos num centro comercial, o espaço público privilegiado do povo português, para discutir a coisa mais importante da vida e que se prende com a satisfação da primeira de todas as necessidades: vamos almoçar ao McDonalds ou vamos para algo mais saudável, tipo casa das sandes?

Não vale a pena os cerca de 700 mil desempregados manifestarem-se. Não vale a pena interrogarmo-nos porque é que o governo legitima todas as suas mudanças políticas através dos media. Não vale a pena manifestarmo-nos por salários iguais aos de outros países membros da União Europeia quando sabemos que iremos pagar taxas moderadoras na saúde equivalentes às praticadas na Alemanha. Não vale a pena dizermos aos nossos filhos que a vida é mais do que uma praxe e uma queima-das-fitas e um jogo de vídeo ou o último modelo automóvel. De nada vale a pena se a alma de um povo é pequena e habilmente manipulada por lobbies político-partidários. E, por vezes, a alma é difícil de serenar quando há muito ruído. Por isso, continuaremos a ir ao circo.
JC


Já agora, só uma achega que não está no outro texto sobre Portalegre: Além da Finos e da Johnson, há a situação da centenária Robinson que está pela rua da amargura e prestes a fechar a qualquer momento. Serão mais 300 (à volta disso).
Haveria também, claro está, de avançar para uma ampla discussão sobre a actuação dos media nesta e noutras situações. Infelizmente continua a ser mais fácil mostrar e falar com o desgraçado da lágrima ao canto do olho.

terça-feira, setembro 26, 2006

Letizia está GRÁVIDA... e Cavaco em Espanha

Desculpem se firo a susceptibilidade de algumas das minhas amigas, mas uma mulher quando está grávida não se cala. Pelo menos enquanto não anunciar ao mundo o seu estado.
Grávidas de semana e meia, começam a pôr as mãos nos quadris disfarçando um falso cansaço, ao mesmo tempo que empurram a barriga prá frente para que se veja uma suposta proeminência (às vezes a barriga ainda está côncava).

Por esta razão, não se espantem ao ver nos jornais que Maria Cavaco Silva foi a primeira a saber da gravidez da princesa de Espanha.
A primeira dama portuguesa terá sido, muito provavelmente, a primeira criatura com quem Letizia Ortiz se encontrou depois de saber que estava grávida.

Imagino o diálogo à entrada do Palacio de la Zarzuela:
Cavaco: "Marrestad, D. Sofia está deslumbrante! Aahh! D. Ruan, como va?"
Juan Carlos: "Senhor Presidente, eu vivi no Estoril. Pode falar português. Como está, meu caro amigo? Esta é que é a sua mulher?".
Cavaco: "Maria, chega-te cá! lembras-te do Ruan Carlos?"
... (passando os cumprimentos, chega a vez de Letizia)
Maria Cavaco: "Princiesa, estais lindia, munto guesto en conhecerlia, já a tenia vesido en la televisião, pero ao vivio es mas bonitia. Como estás?"
Letícia: "Estoy embarazada!"
Maria Cavaco: "Ora essia, nada de embaracios, estejia à vontiade, eu non soui de cerimóinias"

E foi isto que se passou.

De resto, a visita de Cavaco Silva a Espanha teve um impacto estrondoso, com chamadas de primeira página em toda a imprensa. Os jornais desta manhã dão-nos conta que a princesa Letizia está grávida e que apesar dos médicos não aconselharem repouso, Letizia "esta noche evitará la cena de gala en honor - agora atenção - del presidente de Portugal (cá está a referência a Cavaco nas primeiras páginas)".

Pontapé no interior

Interioridade é sinónimo de atraso. Na capital do império, acham que dizer isto é miserabilismo e discurso estafado, sem sentido, ao género façam-mais-e-falem-menos-que-isto-está-difícil-para-todos.
Pois é!
Notícia: Dezembro de 2003: encerramento fábrica Finos em Portalegre. 300 desempregados.
Notícia: Setembro de 2006: encerramento da Johnson Controls em Portalegre. 300 desempregados.

Numa cidade do interior com cerca de 15 mil habitantes, 600 pessoas sem trabalho no espaço de (menos) de três anos é obra!

Não há Alentejo que resista!

terça-feira, setembro 19, 2006

O Congresso e a Excelência

Notícia: Afinal o Congresso do PS pode não ser em Évora por dificuldades logísticas. Não há nenhum espaço para albergar tanta gente.

Não se percebe como esta "cidade de excelência" continua nesta miséria!

Corolário lógico

Notícia: Domingos Cordeiro (presidente da Associação de Futebol de Évora) no Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol.

Lógico: O Estágio da Selecção em Évora começa a dar frutos...

A propósito, alguém sabe alguma coisa do novo estádio utilizado para os treinos da Selecção? Ainda existe? Tem água? Relva? As obras prometidas continuam?

segunda-feira, setembro 18, 2006

Shhhhhiiiiiuuuuuuuuuu...



Mordaz. Irónico. Oportuno. Corrosivo. O grande Luís Afonso não dá hipóteses. O Barba e Cabelo da edição de hoje de A Bola serve para os sportinguistas porem a mão na consciência.

Senão, daqui a nove meses, ainda andamos a ouvi-los dizer "se não fosse o golo com a mão em Alvalade, nós....". Nós nada. Joguem à bola.

Sol Expresso

O primeiro número do Sol já pertence à história. Em primeiro lugar vem provar que ao Expresso não basta mudar de visual e tamanho. Não é só com, ou de, grafismo novo e filmes requentados que se faz a credibilidade de um jornal dito "de referência".

Esta semana o Sol bate o Expresso aos pontos. Mas não dá ainda para ver nada. Só a continuação, semana após semana dará para ver se o novo semanário tem pés para andar e que alterações vai produzir no Expresso, primeiro, ou no jornalismo nacional.

Pelo que vi, não fico com grandes esperanças. Talvez por ter elevado demasiado a minha expectativa.

O Sol diz que "0 país queria um jornal assim".
Eu digo: "o país queria um jornal. Se assim, não sei".

Juizes e futebol

Como se sabe há muitos juizes intimamente ligados a clubes e organismos dirigentes do futebol. Ao longo da história têm produzidos opiniões e decisões que envergonham um simples estudante de direito acabadinho de entrar na faculdade.
O Conselho Superior de Magistratura quer os juizes fora do futebol.
Boa ideia. Por uma questão de seriedade. Credibilidade.
Agora, uma no cravo outra na ferradura:
- Terá o CSM direito a cercear a liberdade das pessoas?
- Será legítimo andarem senhores juizes metidos nesse antro de corru... - perdão - de suspeitas de corrupção?

quinta-feira, setembro 14, 2006

Apito Dourado

Ok! Que o Apito Dourado não ia dar nada já sabíamos há muito tempo. Mas deixa uma marca indelével. Ou alguém acredita nos resultados depois de se saber a tramóia toda?
Eles não foram presos por vazio na legislação e falta de provas. Mas que combinam resultados, nomeiam árbitros a seu bel prazer, falseam jogos, disso ninguém tem dúvidas. Ou têm?

quarta-feira, setembro 13, 2006

O QI de George

Os americanos são peritos a fazer estudos. Fazem estudos sobre tudo e, inclusivamente, fazem estudos sobre os estudos que estudam tudo. Os americanos são líderes mundiais em estudos.
E toda a gente gosta de ver os estudos que os americanos fazem. Os órgãos de informação em Portugal, por exemplo, gostam muito de publicar os estudos dos americanos. Gostam de pulbicar todos os estudos - da OCDE, da UE, do CE, da USDE, do CFTP (não sabem o que são as siglas? nem eu, e fui eu que as escrevi, imaginem se as tivesse lido num jornal) - mas dos americanos em particular.

Ontem, algures, lá vinha o estudo que um reputado cientista americano - são sempre "reputados" os cientistas que fazem estudos - que garante que o QI de George W. Bush é o mais baixo de todos os presidentes americanos, menos de um que governou nos anos 20. Ainda assim adverte que sendo baixo, entra na média de qualquer licenciado americano. O valor medido do QI parece-me que andava entre os 111 e os 137.
Isto significa o quê? Que Bush é burro? Devemos ter medo de qualquer licenciado americano? O cientista é Democrata?
Uma infinidade de perguntas ficam por fazer. Uma miríade de dúvidas ficam no ar. Não é duvidar do estudo nem do altruismo e trabalho do seu autor. Até pode ser que as dúvidas se coloquem por as notícias apenas traçarem um mero resumo do estudo.
Mas há uma grande pergunta que se deve fazer a esses estudiosos e raramente se faz - normalmente, ou por vergonha, ou porque o próprio jornalista quer "dar uma de intelectual" e fazer perguntas difícies como se percebesse alguma coisa daquilo.
A crucial pergunta é: "Ó shô tôr, realmente, numa perspectiva holística, abrangente, e tendo em conta a interacção entre os diferentes sectores, a multidisciplinariade da equipa, a própria temática, dentro das várias perspectivas em que ela pode ser analisada, não perdendo de vista, obviamente, o trabalho de coordenação levado a cabo, ou executado pelo shô tôr, a pergunta que eu lhe fazia, em relação ao estudo, claro está, é: PARA QUE É QUE SERVE ESSA MERDA?".

Ao ser avisado disto tudo Bush disse:
"What the hell is that? Fuck inquiries! Fuck the IQ! Let's bomb it!". Três horas depois, cinco conselheiros da Casa Branca já tinham explicado so Presidente que o QI era algo relacionado com a inteligência e que não era preciso bombardear.
Cerca de cinco horas depois, Bush lá entendeu que era inteligente não bombardear o QI, porque "não se deve bombardear a inteligência que é nossa, só se deve bombardear a inteligência que é dos outros, porque a inteligência que é nossa pode-nos fazer falta para bombardear a inteligência que é dos outros, por isso mandem parar as bombas que eu temo pela minha inteligência".
"That's it, mister President. That's it. - Huuuuffffffffff!!!!"! - desabafou o censelheiro mor, quando já se preparava uma conferência de imprensa sobre um ataque à inteligência.

terça-feira, setembro 12, 2006

Um abraço João...

Camarada da rádio. Jornalista da Antena 1. João Carlos Garcia partiu. Aos 44.
Um dia, no intervalo da Volta, encontramos em Mora. Tiramos um petisco na tasca do sargento.
Adeus, camarada!

As gémeas de Hollywood

Os últimos dias ficaram marcados pela evocação do 11 de Setembro. Jornais, rádios e tv's fizeram do assunto primeira página, nalguns casos desdobrando-se em especiais de oportunidade discutível. Nas tv's vários foram os documentários exibidos. Alguns já conhecidos e transmitidos o ano passado. Outros novinhos em folha.

Característica de todos eles: resultam de trabalhos de investigação; trazem novidades e acrescentam dados; mostram e registam na primeira pessoa personagens e sobreviventes da tragédia; trazem à colacção, baseados em dados novos, temas antigos; suscitam e motivam novas discussões.
Lançam até olhares mais especulativos. Caso daquele documentário que aborda as grandes transações, locatárias e financeiras, em redor de companhias de seguros, bancos e construtoras de aviões e companhias aéreas, num verdadeiro ensaio conspirativo que faz tremer qualquer ser humano que ainda tenha boas intenções.
Característica (ainda) de todos os documentários é que toda a gente é colocada num patamar de heroicidade. Quase divindade. Todos são heróis. Os que morreram; os que se salvaram; os que ajudaram a salvar; os que supostamente lutaram, mesmo que não se perceba contra o quê ou quem. Numa visão global, alguns documentários colocam mesmo todo o povo americano nesse mesmo patamar de heróis divinos por conseguirem suportar tamanho acto traiçoeiro, sangrento.
Por último, quase todos os documentários nos chegam em jeito de obra Hollywood, com actores a interpretarem papéis daqueles que foram as vítimas - nos aviões ou nas torres. Quase conseguem confundir-nos. Fazer-nos acreditar estarmos perante imagens captadas dentro dos aviões e no interior das torres por câmaras que milagrosamente foram recuperadas.

Sabemos, todos nós, que o ataque ao World Trade Center existiu. Foi uma das mais duras realidades dos tempos modernos no mundo ocidental. Cada um de nós tem ainda memória de onde estava, o que fazia, ou quando soube da notícia. Conheço gente que estava mesmo na ilha de Manhattan naquela manhã (duas da tarde em Portugal).
Todos abrimos o coração, pasmámos, com a violência das imagens em directo trazidas pelas cadeias norte americanas. Tudo foi quase palpável. Nunca antes, nem depois dos ataques ao WTC nos chegaram imagens tão poderosas de qualquer parte do mundo - nem do 11 de Março em Madrid, nem dos atentados de Londres, ou de qualquer invasão bélica americana - com a clareza, evidência, crueza, daquele ataque soez ao centro financeiro do mundo a que nós, ocidentais, gostamos de chamar "civilizado". Por antítese do outro.

No tal "mundo civilizado", onde reina - apesar de ter cada vez mais nuances - a liberdade de expressão, temos acesso à informação (nos mais diversos canais) que tem sido produzida nos últimos anos sobre o 11 de Setembro. Mesmo sem querer já ouvimos milhares de analistas. Civis. Militares. Religiosos. De direita. De esquerda. Radicais de um e outro lado.
Apesar dessas nuances e apesar da linguagem jornalística andar cada vez mais presa à visão política oficial sobre o "nine-eleven", conseguimos, ter uma ideia precisa e clara do 11 de Setembro e alinhar a nossa ideia. Exprimi-la e senti-la em acordo com a nossa condição social, política, religiosa.

À soma dos documentários, juntámos mais umas boas dúzias de repetições, de diferentes ângulos e perspectivas, das imagens dos aviões a entrarem nas torres gémeas.
Imagens tão repetidas e capazes de impressionarem.

O regresso aos documentários.
Impressiona a forma como eles são realizados e como é tratada a informação neles contidos.
São documentários ao modo americano. Mega produções do mundo da fantasia. Excelentemente encenados e interpretados.
Documentários de excelente qualidade televisiva, mas colocados e mostrados num patamar em que não se realçam as qualidades jornalísticas ou de investigação.
Em lugar de profundos documentos jornalísticos de ultra-qualidade resultantes de estudos aprofundados, intermináveis horas de investigação e cruzamento de dados, os trabalhos chegam-nos como se tivessem sido tratados em Hollywood. Super-produções de Brian de Palma, Coppola, Spillberg. Ou do mais realista Oliver Stone - com película sobre o tema já apresentada em Veneza, suponho.

Apenas e só cinco anos depois, aqueles documentários criam ilusão de pura fantasia. Pelo meio só falta a personagem interpretada por Bruce Willis que tem sempre uma piada na ponta da língua, mesmo quando o cenário é o mais dramático e implica risco de vida.

O habitual olhar americano. Igual à "Tempestade no Deserto". Igual à libertação do Kosovo. Igual à mais recente intervenção no Iraque, que mais tarde ou mais cedo, como os outros, será mero tema de produção de filmes com maior ou menor orçamento em Hollywood.

Como se só dessa forma o mundo - todos nós - fosse capaz de entender a dor, interpretar a crueldade, sentir a raiva.

O problema é que tudo isto não é um filme. Foi real. É real. E ainda não acabou.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Inquisição Nova

Notícia do dia: Lisboa e Porto JÁ têm hotéis onde não se pode fumar.

Maricas...

As alsas do Jerónimo II

Mil perdões revolucionários. Não se justificava a brincadeira de Satanás.
Afinal Jerónimo de Sousa não estava de forquilha em riste.
Era apenas uma FARCilha!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Derrubar espanhóis


“A essência da Língua é o som. Vou falar em português. Se não perceberem o que vou dizer, pelo menos oiçam o som".
A frase é de Eduardo Lourenço e antecedeu o discurso proferido ontem em Badajoz no Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo.
As cerca de mil pessoas, a esmagadora maioria espanhóis, levaram com meia hora de discurso do grande ensaísta português.
Puxaram dos leques. Torceram-se nas cadeiras. Começou a ouvir-se um burburinho. Havia nos seus rostos traços de angústia. Impenetrável Lourenço embalava as palavras, dissertando sobre a dimensão cultural da Europa e afirmando acreditar na cultura como amplo espaço de liberdade universal.
Um discurso poderoso. E bonito. Os espanhóis, entediados, não o perceberam. Mas gramaram-no até ao fim (ganda Lourenço).
Entre os jornalistas portugueses ia-se comentando que nunca um português tinha dominado tanto espanhol só com... palavras.

Em Badajoz, Eduardo Lourenço, filósofo, ensaísta, escritor, recebeu das mãos de Juan Carlos Rodriguez Ibarra, presidente da Junta da Extremadura (Espanha) o PREMIO A LA MEJOR TRAYECTORIA LITERARIA DE AUTOR IBEROAMERICANO. Um prémio que volta a falar português depois das distinções ao poeta Eugénio de Andrade (2000), Manoel de Oliveira (2003) e ao cantor brasileiro Gilberto Gil, no ano passado.
Talvez Eduardo Lourenço seja, a par de Agostinho da Silva, o grande pensador português do século XX. Lourenço continua em grande actividade – hoje mesmo é publicada na revista Visão o olhar do ensaísta sobre os cinco anos passados sobre os ataques do 11 de Setembro.
Ontem em Badajoz comprovou-se a pujança do professor.

Prá frente Gil

Hoje, lá longe, quase do outro lado do mundo, em Barcelos, o Gil Vicente e os seus sócios decidem sobre a retirada, ou não, dos processos nos tribunais comuns.
Espero, sinceramente, que mantenham todas as queixas e no caso de se lembrarem de mais alguma avancem também.
Espero que a toda poderosa FIFA - que já aqui critiquei e criticarei - cumpra o que prometeu e retire os clubes portugueses e a Selecção Nacional de todas as competições internacionais.
Já que nem o "apito dourado" nem outros sinais evidentes de corrupção parecem abanar o futebol em Portugal, pode ser que com a sanção exemplar da FIFA muitos dos dirigentes se encham de vergonha e de uma vez por todas desapareçam.
Força Gil! Esta pode ser a vereda para a moralização da bola no país (ou então para a confusão total).

terça-feira, setembro 05, 2006

A FIFA não é dona do mundo


O chamado “caso Mateus” deveria mudar de nome. Devia chamar-se “mais um caso Loureiro”. “Caso Leal”. Ou o nome de todos os indulgentes dirigentes que inacreditavelmente andaram a dormir na forma e deixaram chegar isto aonde chegou.
Há inúmeros especialistas, advogados, juízes, gente conhecedora da justiça desportiva e não só que tem analisado este caso.
Não posso entrar aqui em considerações por desconhecer a totalidade das permissas. Mas uma coisa sei: de Havelange a Blatter, as fífias da Fifa são muitas e conhecidas.
O organismo internacional que gere o futebol só vê dinheiro. Só se move pelo lucro. Explora tudo e todos. Até ao tutano.
Vide o recente Mundial de Futebol, com um BI de infra-qualidade. Porque os artistas chegaram completamente sugados ao placo verde. Pelos campeonatos. Pelas taças europeias – organizadas pela tb toda poderosa UEFA. Pelos jogos das selecções. Mundial com 32 selecções, sessenta e tal jogos… tudo para potenciar o número de países, espectadores e, claro, dinheiro.
Vamos à vaca fria. A FIFA e os seus dirigentes não são donos disto. Não podem mandar mais que a Justiça de qualquer país. Bosman provou isso. Levou cinco anos e destruiu a carreira. Os governos têm andado a dormir. Bosman fez jurisprudência e provocou um abalo nos clubes e nas estruturas dirigentes. Provou que a Justiça é para todos.
Descontando os despautrérios do advogado e do presidente do Gil Vicente – que às vezes mais parecem extra-terrestres, com enormes dificuldades de expressão, pronunciando-se de forma quase ininteligível -, se o Gil Vicente continuar com a sua luta, quantos anos levará a provar a sua razão? O que lhe acontecerá? Como reagirão aqueles que andam a falar “do supremo ineteresse nacional” ao referirem-se aos jogos da selecção e do Benfica, do Porto e do outro na Liga dos Campeões?
Como se o mundo, o défice no país, os números do desemprego e todos os problemas estivessem resolvidos com o tal “supremo interesse nacional” – como ainda ontem escrevia em editorial Santos Neves n’A Bola. Supremo interesse, o tanas. Todos temos direito à Justiça e direito à inocência até prova em contrário.De galo e orgulho na mão, Avante Gil! A FIFA não é dona do Mundo.

... é para todos


Se o Sol custa dois euros e afastará por isso alguns compradores, em Inglaterra continua a maré dos jornais para todos. Grátis. Ou à borla.
O London Lite antecipou a data do seu lançamento para esta semana e com isso fará com que diariamente, em Inglaterra, aumente para milhão e meio a tiragem de jornais com distribuição gratuita.
Para quem ñ conhece, estes são jornais feitos a pensar em quem se perde na azáfama quotidiana da vida citadina, sai de casa às cinco da manhã e regressa às 10 da noite, sem tempo para “grandes” notícias.
Leem-se em pouco mais de meia hora, estão impregnados de publicidade e são uma espécie de Big Brother em formato papel, isto é, verdadeiros investigadores de escândalos.
Este fenómeno não é exclusivo de Inglaterra – por cá também já existem vários títulos do género, que são, por enquanto, mais de borla, que de escândalos – mas o caso inglês é para seguir com atenção. Porque tudo isto está a mudar… Como bem escreve Diogo Pires Aurélio no DN de hoje.

O sol quando nasce...


Depois de vários anos em coma profundo, assistimos na última sexta feira à morte do Independente.
Preparamo-nos para assisitir, no próximo sábado, 16, ao nascimento do novo semanário “Sol” que promete, tal como o Independente em 88, “um jornalismo completamente novo” e concorrência feroz ao Expresso.
Mas José António Saraiva, o arquitecto que durante 22 anos dirigiu o Expresso e que agora é fundador e também director do “Sol” – não confundir com o The Sun inglês, o tal das strippers na page 3 – vai mais longe que Paulo Portas no arranque do Independente.
Portas, então director do Indy, garantia que o dia mais feliz da vida seria o primeiro em que vendesse mais um exemplar que o Expresso. Nunca o conseguiu. Acabou a fundar o PP, lixar o PSD e a ser ministro.
Saraiva vai mais longe que Portas pois promete estar à frente do Expresso “desde o primeiro número”, conforme vem hoje transcrito no DN.
Saraiva lá sabe. Sabe o que fazia. O que o deixavam fazer. O que quer fazer.
Nós não. Nada sabemos. Ficamos para ver.
Com cores garridas, o novo “Sol” quer apagar o cinzentismo do Expresso.
Para já o Expresso mostra medo e aparecerá nas bancas mais barato, com novo conceito editorial acompanhado de novo grafismo e formato - abandonando de vez o broad-sheet, marca dos jornais de referência (prenúncio?).
Conseguirá Saraiva? O “Sol” custará 2 euros.

As alsas do Jerónimo


De forquilha em riste, o verdadeiro Satanás foi uma das figuras de topo na última Festa do Avante ao lado de Luís Filipe Vieira e Marcelo R. de Sousa... o quê?
É quem? O Jerón...!?
Mudança de Notícia:
Eis o camarada Jerónimo de camisola de alsas amarelas, luvas e forquilha, a trabalhar para um esforço colectivo chamado Festa do Avante.
Assim se educa classe operária… E diziam eles que não gostavam de marketing político. Foto de João Relvas/Lusa

quinta-feira, agosto 31, 2006

Soares voltou

Soares voltou. Hoje como ontem. No seu melhor. No diz que disse e não disse, mas afinal tinha dito, só que ninguém tinha percebido que o que disse nunca tinha dito... Percebem?
Eis um excerto da entrevista de Mário Soares a António José Teixeira no DN de hoje.


Disse antes das eleições que se não ganhasse não ficaria deprimido. Como é que ficou realmente?
Não fiquei deprimido, como viu. Não foi a primeira vez que perdi eleições. Já tinha perdido legislativas em que me empenhei tanto como nestas. Não queria ser candidato. Fui pressionado de vários lados. Não só do PS. Finalmente, convenci-me. Achei que tinha esse dever. Não voltei as costas. Mas hoje apercebo-me de que os jogos já estavam feitos...


É de Soares!

Magnífico

Momento imperdível. Imprescindível gravar.

NO DIRECTION HOME - BOB DYLAN
O encontro de um dos maiores cineastas em actividade, Martin Scorsese, com uma lenda viva da música, Bob Dylan.
23:10 na RTP 2.

Depeche Mode - Stripped.

Distracção nocturna.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Bye Indy


Foi bom. Marcou uma década. Com Portas e Esteves Cardoso. Chateou Cavaco. Beleza. Macedo. Deu trabalho a advogados e juizes. Refrescou o jornalismo. Incomodou o Expresso. Foi um bom jornal. O Independente vai fechar. Já não incomodava ninguém!

Ajudem o Mateus

Contributo para o absurdo caso Mateus:
- O Belenenses perdeu no campo o direito a jogar na primeira Liga.
- O Gil Vicente prevaricou.

Há algum regulamento que impeça um campeonato jogado com 15 clubes?

Já agora:
- Temos mesmo de continuar a aturar os berros do major Loureiro?
- Há Cunhas Leais?
- Onde é que anda o outro Loureiro, o do PSD, eleito para a Liga?

Uma questão higiénica:
- Não se pode interpor uma providência cautelar que imponha silêncio total e absoluto aos dirigentes desportivos em Portugal?

A notícia do ano

Noite fresca no Largo. Conversa animada. À baila as audições na Entidade Reguladora para a Comunicação Social a propósito da crónica de Eduardo Cintra Torres no jornal Público acusando a direcção de informação da RTP de receber ordens do governo para moderar as imagens sobre os fogos deste ano.
Cintra Torres garantiu ter “fontes” seguras e como jornalista não podia escamotear a informação, muito embora escrevesse na qualidade de cronista e comentador.
A direcção de informação da RTP já informou que vai processar Cintra Torres.
O director do Público veio defender o seu cronista e as suas supostas fontes.
A Entidade Reguladora para a Comunicação Social ouvia hoje as partes.

Resumindo e baralhando:

Se Cintra Torres – que é dos únicos e bons críticos de TV em Portugal – tinha fontes tão boas que garantiam ter havido pressão do governo sobre a dir. Inf. da RTP, porque razão estafou as fontes num artigo de opinião?

Se eram assim tão seguras que ele “como jornalista” não as podia escamotear, porque não as entregou ao director do jornal? Munido da informação, José Manuel fernandes ou um jornalista do Público poderia consultar as ditas fontes, cruzar a informação, apurar a verdadeira história.
Possivelmente teríamos uma primeira página no Público com tema quente, eventual queda do MAI e demissão da dir. Inf. da RTP.

Assim, como as coisas foram trazidas a público, apenas soa a mais uma frente de batalha da já longa guerra de Cintra Torres com o director da RTP Luís Marinho.
“Se calhar - atalhou Ti Zé, sempre bem informado e pronto a meter a colher - perdemos a notícia do ano.”

terça-feira, agosto 29, 2006

Atenção, muita atenção

Se tens entre 16 e 65 anos, aspirações políticas e pertences a uma Jota ou és membro democraticamente eleito de uma qualquer estrutura partidária, se queres ser vereador, presidente de Câmara ou deputado no Parlamento, este anúncio interessa-te:

"A mui novel associação cultural de Baleizão Longitude Zero vai organizar uma acção de formação em clown. O curso decorre entre os dias 11 e 17 de Setembro, no Inatel em Beja, com apresentação de um trabalho final em Baleizão. São limitadas a 15, as inscrições, pelo que a brevidade no acto pode ser preciosa."

Corram, corram, que nas sedes dos principais partidos vai um corropio desenfreado...

Deixo uma dica, mas não digam que fui eu que disse, hã!
Associação Longitude Zero
Email: filipaqq@gmail.com
Tlm: 967 458 137
962 736 489

sexta-feira, agosto 25, 2006

A estupidez dos homens

A notícia vinha nos jornais do dia. Como se tratava de algo completamente estúpido, em plena "silly season" - que até nem tem sido das piores, diga-se - logo as televisões prepararam peças para a hora de jantar.
Ora a grande notícia era uma fabulosa descoberta de cientistas iluminados: as vacas quando mugem têm sotaques diferentes concluiram depois de aturados estudos.
Sem aturados estudos e sem necessidade de cientistas, aqui no largo já tinhamos percebido que as "bacas" lá de "xima" têm sotaque diferente das vacas cá de baixo.
Conversa puxa conversa e o compadre Zé lá estava dirimindo argumentos com mestre Carlos a propósito do sotaque do raio das vacas.
Já a noite convidava a procurar abrigo quando se percebeu a conclusão da discussão:
"O pior disto tudo é que a culpa maior nem sequer é dos cientistas. Eles não têm mais que fazer e ocupam bem o seu tempo. Agora... quem é que anda a estrapaçar dinheiro nestas coisas?"
"É a estupidez dos homens", concluiu o compadre Zé, imediatamente antes do largo ficar vazio.

segunda-feira, agosto 21, 2006

O Largo

Antes de mais dizer apenas que roubei a "Planície Heróica" a um grande livro de Manuel Ribeiro.
O Largo é o centro do mundo, como o via e descrevia Manuel da Fonseca em "O Fogo e as Cinzas".
É aqui, no Largo, neste largo imaginado donde se vê e se tenta saber o Alentejo todo, sentado no banco de pedra, na sombra da azinheira velha e retorcida, que olho para lá do mundo.
Aqui, no Largo, tudo acontece. Aqui se ouvem todas as conversas. E conversamos.
Conversemos, pois.

Paulo Nobre