quinta-feira, dezembro 21, 2006

Natal

Experimentem fazer como este Pai Natal: Bebam um tintinho alentejano e depois leiam esta pérola do Pessoa. E será o vosso melhor Natal de sempre.

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

terça-feira, dezembro 12, 2006

Uma vida normal



Se eu percebesse de cinema, chegava aqui e atirava com propriedade que Joaquim Leitão é o realizador de “Uma Vida Normal”, filme que já vi há uma boa quantidade de anos e do qual só me lembro – não querendo, nem por sombras, desprestigiar a obra - pelo facto de numa passagem aparecer um dos personagens a ligar o rádio, sintonizado na TSF, onde uma pivot das notícias anuncia o meu nome com todas as letras “Paulo Nobre” em reportagem num incêndio qualquer ocorrido há pelo menos 850 anos.
Portanto, se me enganar no nome do realizador, desculpem-lá-qualquer-coisinha-que-não-foi-com-intenção. Até porque nem estou aqui para falar do filme. Apenas me interessa o título: “Uma Vida Normal”.

Devo dizer que só tenho uma vida normal há prái três anos, coisa assim, porque isto dos filhos obriga a sacrifícios tais que o meu avô se fosse vivo e me ouvisse dizer isto, lá do alto da sua experiência de 15 herdeiros, haveria de rebolar-se no chão a rir, para além de me retirar da lista dos entes a quem entregar os bens na hora da morte.

Há largos anos, muito antes de iniciar o curso de Vadiagem, variante Vinhos e Petiscos, mestrado na UNICER e doutoramento sobre Cereais e Frutos Aplicados no Fabrico de Matéria Cervejante concluído em Estrasburgo na famosa Académie de la Bière, há largos anos, dizia, que tinha optado por passar pela cama um máximo de quatro horas – cinco nas melhores noites. Sempre achei que a grande hora de deitar se situava entre as seis e meia e as sete… da manhã. Achei sempre que deveria haver um decreto que justamente decretasse proibição de acordar e levantar da cama antes do meio-dia.

Andei tantos anos pressionado para mudar de vida que só senti algum reconforto quando um dia acordei num quarto de hotel em Dublin, abri uma revista do Expresso que levara de Portugal quase quinze dias antes e me deleitei com uma entrevista do ministro das Finanças, à altura, Sousa Franco. Com a propriedade de um ministro, dizia que “um homem nunca deveria levantar-se antes do meio-dia” de modo a que tivesse um bom aproveitamento da noite, e fazia umas tantas considerações sobre a forma de arrumar um escritório: depositando papéis no chão, em pequenos montes, separados por meses. “Pode levar tempo a consultar, mas sabemos que está lá”, afirmava com palavras de homem sério, que valem mais que as de ministro.

Uma luz de esperança acendeu-se na minha alma. Finalmente alguém com sucesso na vida - que até era ministro e logo das Finanças – partilhava as minhas opiniões sobre arrumação e leis sobre “get up in the morning” - uma discussão que anda arredada da sociedade portuguesa. Logo depois pensei, algo horrorizado, aterrorizado até: “Se não me ponho a pau, ainda chego a ministro! Vá de retro!” – e bati três vezes na madeira da cama.

Bom, mas, fiquei tão estimulado por haver um ministro a pensar como eu que comemorei da melhor maneira, estando longe de pensar que da comemoração haveria de sair o mal de que agora me queixo: uma filha. Porque foi ela que me “obrigou” – com as devidas aspas – a passar a ter a vidinha típica do português comum, baseada na livre adaptação do ditado “deitar cedo e cedo erguer, porque amanhã é dia de trabalho”.

Pois dizia, que há três anos despontei para aquele tipo de vidinha que parece ser a da maioria dos portugueses. E fiz uma descoberta para a qual vou começar a contribuir com estudo científico a publicar mais tarde numa dessas revistas de renome mundial.
Já sei porque é que os portugueses lêem pouco. Nã, nã, nada tem a ver com o elevado preço dos livros e outras fórmulas, fábulas e tretas que os mais ou menos entendidos vendem por aí. Pura banha da cobra.

O portuguesinho não lê porque se deixa dormir. “O QUÊ???” – perguntam mentalmente na solidão do vosso escritório. Digo de novo: deixam-se dormir a ler. É por isso que não lêem.

Esta é uma constatação cuja configuração comecei a perceber justamente de há três anos para cá. A minha capacidade de leitura começou a ficar diminuida a partir do momento em que passei a exercer o “deitar cedo e cedo erguer, que amanhã é dia de trabalho” ao qual acrescentei “e tenho de levar a rapaziada à escola”.
Passei a levantar-me às sete da manhã, hora precisa a que o hábito me mandava deitar.

O pior foi depois. Quando, noite dentro, peguei nos livros, comecei a perceber, ao fim de três ou quatro noites, que apesar de várias horas pegado ao último romance de Lobo Antunes, a página era sempre a mesma.
Mudei de escritor, troquei de romance, peguei nos clássicos policiais – Le Carré à cabeça – e… nada. Pepetela ficou à espera. Nem Mia Couto, nem Sepúlveda, que me habituara a ler aos pares durante a noite. Nada.
O húngaro Sandor Marai é a última vítima da minha incapacidade. Já vou em quatro noites e não consegui passar da página 18. Ainda antes das duas da manhã, dou por mim encostado. Mão na cara. Cabeça pendente, quase a derrubar a jarra das flores secas que às vezes serve de apoio ao livro.

Dantes, quando entrava numa livraria, via livros. Para ler.
Agora, entro na FNAC e sinto-me ultrajantemente apaixonado por todas aquelas páginas que desconfio não ser capaz de levar à certa e consumar o acto amoroso de as despachar antes de chegar à cama. “Amo-vos a todas!!!, sejam minhas… para sempre!”, - afirma a minha imaginação em profundo deleite. Mas todas as noites elas me viram costas, acomodando-se por debaixo do manto soporífero que antes da entrada da madrugada me tolhe os sentidos.

Estou farto da minha “Vida Normal”.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Sugar kisses


Na linha do post anterior, recordo:
"Lips Like Sugar" dos Echo & The Bunnymen
Lá pelo refrão é possível ouvir "Lips Like Sugar, sugar kisses". Fabuloso. Os sugar kisses e a música.

Pergunto: "Dancez vous, Madame?"




O regresso à escrita estava há muito adiado, mas finalmente chegou o dia. E este não é um dia qualquer. É o dia em que Ségolène visita Portugal.
Perguntam vocês: “Quem é Ségolène?”

Em primeiro lugar devo dizer que se perguntam isso é porque andam a dormir há uns meses.
Em segundo, antes de responder, digo que escrever Ségolène é uma seca por causa dos dois acentos.
Finalmente dizer que Ségolène é a mulher que acaba com o paradigma das mulheres feias na política. Lembrem-se só de Ferreira Leite, de Maria Nogueira Pinto, Golda Meir ou Margaret Thatcher. Ou passem o olhar pelo Parlamento... é de fugir!

Pois Ségolène é a antítese daquelas todas e é a candidata socialista que irá disputar as eleições para a presidência de França no próximo ano.
Olhando para a futura inquilina (acredito eu) do Eliseu - com os seus cinquenta e poucos - apetece dar uma volta e convidar para um jantar romântico seguido de um pé de dança. "Dancez vous, Madame?", pergunto. Espero a resposta doce "Oh! Mais... oui monsieur. Avec plaisir!". Depois o apelido: Royal... hummmm! é melhor que o pudim...
É bonita. Sensual. Um sorriso enfeitiçante. Tem aquele “não-sei-quê” que dá a volta à cabeça de qualquer homem. Podem vê-la hoje, em Lisboa, junto à homenzarrada socialista. Vale mais que perder tempo a olhar a árvore de Natal da Praça do Comércio.

Apesar de tudo, não me iludo. Toda aquela beleza debaixo do animalesco fato político, pré-configura aquilo que muito provavelmente lhe vou chamar dentro de poucos anos: Um verdadeiro Diabo de saias. Platonicamente espero enganar-me.

P.S. - Lembrei-me agora e é bom fazer justiça: está na linha de Teresa Patrício Gouveia, a nossa mais sensual ministra de sempre.