quinta-feira, setembro 28, 2006

Lágrima no canto do olho

Camarada de luta em jornadas jornalísticas, José Coimbra reflecte neste texto um pouco daquilo que perpassa pela alma de muitos que não encontram outro remédio senão viver neste país.
Vai na íntegra, com abraço solidário à mistura.

Vamos ao Circo!


São três da tarde e estou deveras chateado com a vida, não só com a minha, mas com a deste país meio-vivo para não dizer quase morto. Quem escuta a nossa classe política e lhe dá ouvidos, e dar ouvidos nem sempre é sinónimo de pensar no que se ouve, até pode considerar que a crise começa a ser coisa do passado. O presente e o futuro trarão mais oportunidades de emprego, salários mais elevados, melhores condições de vida, um Estado social mais justo. O primeiro – ministro fala disto à boca cheia, com a certeza de quem está a construir uma política estratégica para os próximos 30 anos, do alto da sua arrogância e do seu autismo, ignorando a realidade vivida por milhares de portugueses. Entristece-se, diz, sempre que uma empresa fecha as portas e compreende o desespero dos trabalhadores, ao mesmo tempo que os administradores dessas mesmas empresas põem os seus porsches a funcionar e acenam na derradeira despedida. Entristece-o, o despedimento de milhares de trabalhadores mas discursa com um toque que deixa transparecer que a vida é mesmo assim. Fala seguro na posição de quem não tem que gerir um orçamento familiar com um ou dois ordenados mínimos, quando assim é, ou na incerteza da instabilidade laboral. E isto até lhe dá força para continuar a desenvolver políticas que apostam sobretudo na entrega de quase tudo ao sector privado. Deveria ser motivo, também, para os trabalhadores (que deixaram de o ser) ganharem força para reorganizar suas vidas. Como? Sempre podem fazer umas plásticas e fazerem-se passar por trabalhadores novos e activos, cheios de pujança para começarem do zero; podem forjar diplomas e em vez de terem o 9º ano ou menos de escolaridade, apresentaram-se como licenciados e promissores quadros superiores. Senhor primeiro-ministro, muitas dessas pessoas têm entre quarenta e cinquenta anos; senhor primeiro-ministro, muitas dessas pessoas têm uma baixa escolaridade; senhor primeiro-ministro, muitas desses trabalhadores não vão conseguir outro trabalho na vida e os que conseguirem farão uns biscates sem pagar os respectivos impostos.

E os jornalistas, em particular, e os órgãos de comunicação social em geral, claro está, cumprem os desígnios do Exmo. Sr. primeiro, não fossem arranjar complicações de maior a quem parece estar sempre a gritar com um megafone colado à boca, bem no meio da arena do circo da propaganda política governamental. Para os media, o que importa é captar o momento em que o ex-operário fabril grita e chora, condição fundamental para apimentar a abertura do telejornal. A resposta da administração, na maior parte das vezes, já sabem qual é: “ninguém da administração se mostrou disponível para prestar declarações”. E como é sempre a mesma resposta, já nem vale a pena tentar a pergunta. Um minuto e meio de choro e gritaria é o suficiente para a máquina mediática converter audiências em publicidade e publicidade em lucro. Digamos que os media, neste espectáculo circense com várias arenas em cena simultaneamente, são como os anões que aparecem quando menos se espera e que, na maioria das vezes, entretêm mais que os palhaços. São desastrados e nunca fazem nada correcto a não ser entreter com o que fazem de errado.

E neste circo somos todos espectadores, ou pelo menos todos fazemos figura de espectadores, autorizados a bater palmas quando as manobras circenses correm bem. Mesmo que alguém caia do trapézio, batemos palmas, porque o que conta é a intenção, é o esforço da tentativa. E já que o governo se está a esforçar tanto, para quê denegrir a sua imagem mesmo quando alguma coisa corre mal? O melhor é apertarmos a bola vermelha que temos no lugar do nariz e bater palmas como as focas domesticadas.

E porquê chatearmo-nos com o que quer que seja. Senão vejamos: está a aproximar-se o fim-de-semana, vai haver futebol e o domingo, se deus quiser, apresentar-se-á soalheiro para podemos ir todos até às lavagens automáticas de automóveis puxar o lustro ao nosso tuning artilhado até ao chassi. Depois enfiamo-nos num centro comercial, o espaço público privilegiado do povo português, para discutir a coisa mais importante da vida e que se prende com a satisfação da primeira de todas as necessidades: vamos almoçar ao McDonalds ou vamos para algo mais saudável, tipo casa das sandes?

Não vale a pena os cerca de 700 mil desempregados manifestarem-se. Não vale a pena interrogarmo-nos porque é que o governo legitima todas as suas mudanças políticas através dos media. Não vale a pena manifestarmo-nos por salários iguais aos de outros países membros da União Europeia quando sabemos que iremos pagar taxas moderadoras na saúde equivalentes às praticadas na Alemanha. Não vale a pena dizermos aos nossos filhos que a vida é mais do que uma praxe e uma queima-das-fitas e um jogo de vídeo ou o último modelo automóvel. De nada vale a pena se a alma de um povo é pequena e habilmente manipulada por lobbies político-partidários. E, por vezes, a alma é difícil de serenar quando há muito ruído. Por isso, continuaremos a ir ao circo.
JC


Já agora, só uma achega que não está no outro texto sobre Portalegre: Além da Finos e da Johnson, há a situação da centenária Robinson que está pela rua da amargura e prestes a fechar a qualquer momento. Serão mais 300 (à volta disso).
Haveria também, claro está, de avançar para uma ampla discussão sobre a actuação dos media nesta e noutras situações. Infelizmente continua a ser mais fácil mostrar e falar com o desgraçado da lágrima ao canto do olho.

terça-feira, setembro 26, 2006

Letizia está GRÁVIDA... e Cavaco em Espanha

Desculpem se firo a susceptibilidade de algumas das minhas amigas, mas uma mulher quando está grávida não se cala. Pelo menos enquanto não anunciar ao mundo o seu estado.
Grávidas de semana e meia, começam a pôr as mãos nos quadris disfarçando um falso cansaço, ao mesmo tempo que empurram a barriga prá frente para que se veja uma suposta proeminência (às vezes a barriga ainda está côncava).

Por esta razão, não se espantem ao ver nos jornais que Maria Cavaco Silva foi a primeira a saber da gravidez da princesa de Espanha.
A primeira dama portuguesa terá sido, muito provavelmente, a primeira criatura com quem Letizia Ortiz se encontrou depois de saber que estava grávida.

Imagino o diálogo à entrada do Palacio de la Zarzuela:
Cavaco: "Marrestad, D. Sofia está deslumbrante! Aahh! D. Ruan, como va?"
Juan Carlos: "Senhor Presidente, eu vivi no Estoril. Pode falar português. Como está, meu caro amigo? Esta é que é a sua mulher?".
Cavaco: "Maria, chega-te cá! lembras-te do Ruan Carlos?"
... (passando os cumprimentos, chega a vez de Letizia)
Maria Cavaco: "Princiesa, estais lindia, munto guesto en conhecerlia, já a tenia vesido en la televisião, pero ao vivio es mas bonitia. Como estás?"
Letícia: "Estoy embarazada!"
Maria Cavaco: "Ora essia, nada de embaracios, estejia à vontiade, eu non soui de cerimóinias"

E foi isto que se passou.

De resto, a visita de Cavaco Silva a Espanha teve um impacto estrondoso, com chamadas de primeira página em toda a imprensa. Os jornais desta manhã dão-nos conta que a princesa Letizia está grávida e que apesar dos médicos não aconselharem repouso, Letizia "esta noche evitará la cena de gala en honor - agora atenção - del presidente de Portugal (cá está a referência a Cavaco nas primeiras páginas)".

Pontapé no interior

Interioridade é sinónimo de atraso. Na capital do império, acham que dizer isto é miserabilismo e discurso estafado, sem sentido, ao género façam-mais-e-falem-menos-que-isto-está-difícil-para-todos.
Pois é!
Notícia: Dezembro de 2003: encerramento fábrica Finos em Portalegre. 300 desempregados.
Notícia: Setembro de 2006: encerramento da Johnson Controls em Portalegre. 300 desempregados.

Numa cidade do interior com cerca de 15 mil habitantes, 600 pessoas sem trabalho no espaço de (menos) de três anos é obra!

Não há Alentejo que resista!

terça-feira, setembro 19, 2006

O Congresso e a Excelência

Notícia: Afinal o Congresso do PS pode não ser em Évora por dificuldades logísticas. Não há nenhum espaço para albergar tanta gente.

Não se percebe como esta "cidade de excelência" continua nesta miséria!

Corolário lógico

Notícia: Domingos Cordeiro (presidente da Associação de Futebol de Évora) no Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol.

Lógico: O Estágio da Selecção em Évora começa a dar frutos...

A propósito, alguém sabe alguma coisa do novo estádio utilizado para os treinos da Selecção? Ainda existe? Tem água? Relva? As obras prometidas continuam?

segunda-feira, setembro 18, 2006

Shhhhhiiiiiuuuuuuuuuu...



Mordaz. Irónico. Oportuno. Corrosivo. O grande Luís Afonso não dá hipóteses. O Barba e Cabelo da edição de hoje de A Bola serve para os sportinguistas porem a mão na consciência.

Senão, daqui a nove meses, ainda andamos a ouvi-los dizer "se não fosse o golo com a mão em Alvalade, nós....". Nós nada. Joguem à bola.

Sol Expresso

O primeiro número do Sol já pertence à história. Em primeiro lugar vem provar que ao Expresso não basta mudar de visual e tamanho. Não é só com, ou de, grafismo novo e filmes requentados que se faz a credibilidade de um jornal dito "de referência".

Esta semana o Sol bate o Expresso aos pontos. Mas não dá ainda para ver nada. Só a continuação, semana após semana dará para ver se o novo semanário tem pés para andar e que alterações vai produzir no Expresso, primeiro, ou no jornalismo nacional.

Pelo que vi, não fico com grandes esperanças. Talvez por ter elevado demasiado a minha expectativa.

O Sol diz que "0 país queria um jornal assim".
Eu digo: "o país queria um jornal. Se assim, não sei".

Juizes e futebol

Como se sabe há muitos juizes intimamente ligados a clubes e organismos dirigentes do futebol. Ao longo da história têm produzidos opiniões e decisões que envergonham um simples estudante de direito acabadinho de entrar na faculdade.
O Conselho Superior de Magistratura quer os juizes fora do futebol.
Boa ideia. Por uma questão de seriedade. Credibilidade.
Agora, uma no cravo outra na ferradura:
- Terá o CSM direito a cercear a liberdade das pessoas?
- Será legítimo andarem senhores juizes metidos nesse antro de corru... - perdão - de suspeitas de corrupção?

quinta-feira, setembro 14, 2006

Apito Dourado

Ok! Que o Apito Dourado não ia dar nada já sabíamos há muito tempo. Mas deixa uma marca indelével. Ou alguém acredita nos resultados depois de se saber a tramóia toda?
Eles não foram presos por vazio na legislação e falta de provas. Mas que combinam resultados, nomeiam árbitros a seu bel prazer, falseam jogos, disso ninguém tem dúvidas. Ou têm?

quarta-feira, setembro 13, 2006

O QI de George

Os americanos são peritos a fazer estudos. Fazem estudos sobre tudo e, inclusivamente, fazem estudos sobre os estudos que estudam tudo. Os americanos são líderes mundiais em estudos.
E toda a gente gosta de ver os estudos que os americanos fazem. Os órgãos de informação em Portugal, por exemplo, gostam muito de publicar os estudos dos americanos. Gostam de pulbicar todos os estudos - da OCDE, da UE, do CE, da USDE, do CFTP (não sabem o que são as siglas? nem eu, e fui eu que as escrevi, imaginem se as tivesse lido num jornal) - mas dos americanos em particular.

Ontem, algures, lá vinha o estudo que um reputado cientista americano - são sempre "reputados" os cientistas que fazem estudos - que garante que o QI de George W. Bush é o mais baixo de todos os presidentes americanos, menos de um que governou nos anos 20. Ainda assim adverte que sendo baixo, entra na média de qualquer licenciado americano. O valor medido do QI parece-me que andava entre os 111 e os 137.
Isto significa o quê? Que Bush é burro? Devemos ter medo de qualquer licenciado americano? O cientista é Democrata?
Uma infinidade de perguntas ficam por fazer. Uma miríade de dúvidas ficam no ar. Não é duvidar do estudo nem do altruismo e trabalho do seu autor. Até pode ser que as dúvidas se coloquem por as notícias apenas traçarem um mero resumo do estudo.
Mas há uma grande pergunta que se deve fazer a esses estudiosos e raramente se faz - normalmente, ou por vergonha, ou porque o próprio jornalista quer "dar uma de intelectual" e fazer perguntas difícies como se percebesse alguma coisa daquilo.
A crucial pergunta é: "Ó shô tôr, realmente, numa perspectiva holística, abrangente, e tendo em conta a interacção entre os diferentes sectores, a multidisciplinariade da equipa, a própria temática, dentro das várias perspectivas em que ela pode ser analisada, não perdendo de vista, obviamente, o trabalho de coordenação levado a cabo, ou executado pelo shô tôr, a pergunta que eu lhe fazia, em relação ao estudo, claro está, é: PARA QUE É QUE SERVE ESSA MERDA?".

Ao ser avisado disto tudo Bush disse:
"What the hell is that? Fuck inquiries! Fuck the IQ! Let's bomb it!". Três horas depois, cinco conselheiros da Casa Branca já tinham explicado so Presidente que o QI era algo relacionado com a inteligência e que não era preciso bombardear.
Cerca de cinco horas depois, Bush lá entendeu que era inteligente não bombardear o QI, porque "não se deve bombardear a inteligência que é nossa, só se deve bombardear a inteligência que é dos outros, porque a inteligência que é nossa pode-nos fazer falta para bombardear a inteligência que é dos outros, por isso mandem parar as bombas que eu temo pela minha inteligência".
"That's it, mister President. That's it. - Huuuuffffffffff!!!!"! - desabafou o censelheiro mor, quando já se preparava uma conferência de imprensa sobre um ataque à inteligência.

terça-feira, setembro 12, 2006

Um abraço João...

Camarada da rádio. Jornalista da Antena 1. João Carlos Garcia partiu. Aos 44.
Um dia, no intervalo da Volta, encontramos em Mora. Tiramos um petisco na tasca do sargento.
Adeus, camarada!

As gémeas de Hollywood

Os últimos dias ficaram marcados pela evocação do 11 de Setembro. Jornais, rádios e tv's fizeram do assunto primeira página, nalguns casos desdobrando-se em especiais de oportunidade discutível. Nas tv's vários foram os documentários exibidos. Alguns já conhecidos e transmitidos o ano passado. Outros novinhos em folha.

Característica de todos eles: resultam de trabalhos de investigação; trazem novidades e acrescentam dados; mostram e registam na primeira pessoa personagens e sobreviventes da tragédia; trazem à colacção, baseados em dados novos, temas antigos; suscitam e motivam novas discussões.
Lançam até olhares mais especulativos. Caso daquele documentário que aborda as grandes transações, locatárias e financeiras, em redor de companhias de seguros, bancos e construtoras de aviões e companhias aéreas, num verdadeiro ensaio conspirativo que faz tremer qualquer ser humano que ainda tenha boas intenções.
Característica (ainda) de todos os documentários é que toda a gente é colocada num patamar de heroicidade. Quase divindade. Todos são heróis. Os que morreram; os que se salvaram; os que ajudaram a salvar; os que supostamente lutaram, mesmo que não se perceba contra o quê ou quem. Numa visão global, alguns documentários colocam mesmo todo o povo americano nesse mesmo patamar de heróis divinos por conseguirem suportar tamanho acto traiçoeiro, sangrento.
Por último, quase todos os documentários nos chegam em jeito de obra Hollywood, com actores a interpretarem papéis daqueles que foram as vítimas - nos aviões ou nas torres. Quase conseguem confundir-nos. Fazer-nos acreditar estarmos perante imagens captadas dentro dos aviões e no interior das torres por câmaras que milagrosamente foram recuperadas.

Sabemos, todos nós, que o ataque ao World Trade Center existiu. Foi uma das mais duras realidades dos tempos modernos no mundo ocidental. Cada um de nós tem ainda memória de onde estava, o que fazia, ou quando soube da notícia. Conheço gente que estava mesmo na ilha de Manhattan naquela manhã (duas da tarde em Portugal).
Todos abrimos o coração, pasmámos, com a violência das imagens em directo trazidas pelas cadeias norte americanas. Tudo foi quase palpável. Nunca antes, nem depois dos ataques ao WTC nos chegaram imagens tão poderosas de qualquer parte do mundo - nem do 11 de Março em Madrid, nem dos atentados de Londres, ou de qualquer invasão bélica americana - com a clareza, evidência, crueza, daquele ataque soez ao centro financeiro do mundo a que nós, ocidentais, gostamos de chamar "civilizado". Por antítese do outro.

No tal "mundo civilizado", onde reina - apesar de ter cada vez mais nuances - a liberdade de expressão, temos acesso à informação (nos mais diversos canais) que tem sido produzida nos últimos anos sobre o 11 de Setembro. Mesmo sem querer já ouvimos milhares de analistas. Civis. Militares. Religiosos. De direita. De esquerda. Radicais de um e outro lado.
Apesar dessas nuances e apesar da linguagem jornalística andar cada vez mais presa à visão política oficial sobre o "nine-eleven", conseguimos, ter uma ideia precisa e clara do 11 de Setembro e alinhar a nossa ideia. Exprimi-la e senti-la em acordo com a nossa condição social, política, religiosa.

À soma dos documentários, juntámos mais umas boas dúzias de repetições, de diferentes ângulos e perspectivas, das imagens dos aviões a entrarem nas torres gémeas.
Imagens tão repetidas e capazes de impressionarem.

O regresso aos documentários.
Impressiona a forma como eles são realizados e como é tratada a informação neles contidos.
São documentários ao modo americano. Mega produções do mundo da fantasia. Excelentemente encenados e interpretados.
Documentários de excelente qualidade televisiva, mas colocados e mostrados num patamar em que não se realçam as qualidades jornalísticas ou de investigação.
Em lugar de profundos documentos jornalísticos de ultra-qualidade resultantes de estudos aprofundados, intermináveis horas de investigação e cruzamento de dados, os trabalhos chegam-nos como se tivessem sido tratados em Hollywood. Super-produções de Brian de Palma, Coppola, Spillberg. Ou do mais realista Oliver Stone - com película sobre o tema já apresentada em Veneza, suponho.

Apenas e só cinco anos depois, aqueles documentários criam ilusão de pura fantasia. Pelo meio só falta a personagem interpretada por Bruce Willis que tem sempre uma piada na ponta da língua, mesmo quando o cenário é o mais dramático e implica risco de vida.

O habitual olhar americano. Igual à "Tempestade no Deserto". Igual à libertação do Kosovo. Igual à mais recente intervenção no Iraque, que mais tarde ou mais cedo, como os outros, será mero tema de produção de filmes com maior ou menor orçamento em Hollywood.

Como se só dessa forma o mundo - todos nós - fosse capaz de entender a dor, interpretar a crueldade, sentir a raiva.

O problema é que tudo isto não é um filme. Foi real. É real. E ainda não acabou.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Inquisição Nova

Notícia do dia: Lisboa e Porto JÁ têm hotéis onde não se pode fumar.

Maricas...

As alsas do Jerónimo II

Mil perdões revolucionários. Não se justificava a brincadeira de Satanás.
Afinal Jerónimo de Sousa não estava de forquilha em riste.
Era apenas uma FARCilha!

quinta-feira, setembro 07, 2006

Derrubar espanhóis


“A essência da Língua é o som. Vou falar em português. Se não perceberem o que vou dizer, pelo menos oiçam o som".
A frase é de Eduardo Lourenço e antecedeu o discurso proferido ontem em Badajoz no Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo.
As cerca de mil pessoas, a esmagadora maioria espanhóis, levaram com meia hora de discurso do grande ensaísta português.
Puxaram dos leques. Torceram-se nas cadeiras. Começou a ouvir-se um burburinho. Havia nos seus rostos traços de angústia. Impenetrável Lourenço embalava as palavras, dissertando sobre a dimensão cultural da Europa e afirmando acreditar na cultura como amplo espaço de liberdade universal.
Um discurso poderoso. E bonito. Os espanhóis, entediados, não o perceberam. Mas gramaram-no até ao fim (ganda Lourenço).
Entre os jornalistas portugueses ia-se comentando que nunca um português tinha dominado tanto espanhol só com... palavras.

Em Badajoz, Eduardo Lourenço, filósofo, ensaísta, escritor, recebeu das mãos de Juan Carlos Rodriguez Ibarra, presidente da Junta da Extremadura (Espanha) o PREMIO A LA MEJOR TRAYECTORIA LITERARIA DE AUTOR IBEROAMERICANO. Um prémio que volta a falar português depois das distinções ao poeta Eugénio de Andrade (2000), Manoel de Oliveira (2003) e ao cantor brasileiro Gilberto Gil, no ano passado.
Talvez Eduardo Lourenço seja, a par de Agostinho da Silva, o grande pensador português do século XX. Lourenço continua em grande actividade – hoje mesmo é publicada na revista Visão o olhar do ensaísta sobre os cinco anos passados sobre os ataques do 11 de Setembro.
Ontem em Badajoz comprovou-se a pujança do professor.

Prá frente Gil

Hoje, lá longe, quase do outro lado do mundo, em Barcelos, o Gil Vicente e os seus sócios decidem sobre a retirada, ou não, dos processos nos tribunais comuns.
Espero, sinceramente, que mantenham todas as queixas e no caso de se lembrarem de mais alguma avancem também.
Espero que a toda poderosa FIFA - que já aqui critiquei e criticarei - cumpra o que prometeu e retire os clubes portugueses e a Selecção Nacional de todas as competições internacionais.
Já que nem o "apito dourado" nem outros sinais evidentes de corrupção parecem abanar o futebol em Portugal, pode ser que com a sanção exemplar da FIFA muitos dos dirigentes se encham de vergonha e de uma vez por todas desapareçam.
Força Gil! Esta pode ser a vereda para a moralização da bola no país (ou então para a confusão total).

terça-feira, setembro 05, 2006

A FIFA não é dona do mundo


O chamado “caso Mateus” deveria mudar de nome. Devia chamar-se “mais um caso Loureiro”. “Caso Leal”. Ou o nome de todos os indulgentes dirigentes que inacreditavelmente andaram a dormir na forma e deixaram chegar isto aonde chegou.
Há inúmeros especialistas, advogados, juízes, gente conhecedora da justiça desportiva e não só que tem analisado este caso.
Não posso entrar aqui em considerações por desconhecer a totalidade das permissas. Mas uma coisa sei: de Havelange a Blatter, as fífias da Fifa são muitas e conhecidas.
O organismo internacional que gere o futebol só vê dinheiro. Só se move pelo lucro. Explora tudo e todos. Até ao tutano.
Vide o recente Mundial de Futebol, com um BI de infra-qualidade. Porque os artistas chegaram completamente sugados ao placo verde. Pelos campeonatos. Pelas taças europeias – organizadas pela tb toda poderosa UEFA. Pelos jogos das selecções. Mundial com 32 selecções, sessenta e tal jogos… tudo para potenciar o número de países, espectadores e, claro, dinheiro.
Vamos à vaca fria. A FIFA e os seus dirigentes não são donos disto. Não podem mandar mais que a Justiça de qualquer país. Bosman provou isso. Levou cinco anos e destruiu a carreira. Os governos têm andado a dormir. Bosman fez jurisprudência e provocou um abalo nos clubes e nas estruturas dirigentes. Provou que a Justiça é para todos.
Descontando os despautrérios do advogado e do presidente do Gil Vicente – que às vezes mais parecem extra-terrestres, com enormes dificuldades de expressão, pronunciando-se de forma quase ininteligível -, se o Gil Vicente continuar com a sua luta, quantos anos levará a provar a sua razão? O que lhe acontecerá? Como reagirão aqueles que andam a falar “do supremo ineteresse nacional” ao referirem-se aos jogos da selecção e do Benfica, do Porto e do outro na Liga dos Campeões?
Como se o mundo, o défice no país, os números do desemprego e todos os problemas estivessem resolvidos com o tal “supremo interesse nacional” – como ainda ontem escrevia em editorial Santos Neves n’A Bola. Supremo interesse, o tanas. Todos temos direito à Justiça e direito à inocência até prova em contrário.De galo e orgulho na mão, Avante Gil! A FIFA não é dona do Mundo.

... é para todos


Se o Sol custa dois euros e afastará por isso alguns compradores, em Inglaterra continua a maré dos jornais para todos. Grátis. Ou à borla.
O London Lite antecipou a data do seu lançamento para esta semana e com isso fará com que diariamente, em Inglaterra, aumente para milhão e meio a tiragem de jornais com distribuição gratuita.
Para quem ñ conhece, estes são jornais feitos a pensar em quem se perde na azáfama quotidiana da vida citadina, sai de casa às cinco da manhã e regressa às 10 da noite, sem tempo para “grandes” notícias.
Leem-se em pouco mais de meia hora, estão impregnados de publicidade e são uma espécie de Big Brother em formato papel, isto é, verdadeiros investigadores de escândalos.
Este fenómeno não é exclusivo de Inglaterra – por cá também já existem vários títulos do género, que são, por enquanto, mais de borla, que de escândalos – mas o caso inglês é para seguir com atenção. Porque tudo isto está a mudar… Como bem escreve Diogo Pires Aurélio no DN de hoje.

O sol quando nasce...


Depois de vários anos em coma profundo, assistimos na última sexta feira à morte do Independente.
Preparamo-nos para assisitir, no próximo sábado, 16, ao nascimento do novo semanário “Sol” que promete, tal como o Independente em 88, “um jornalismo completamente novo” e concorrência feroz ao Expresso.
Mas José António Saraiva, o arquitecto que durante 22 anos dirigiu o Expresso e que agora é fundador e também director do “Sol” – não confundir com o The Sun inglês, o tal das strippers na page 3 – vai mais longe que Paulo Portas no arranque do Independente.
Portas, então director do Indy, garantia que o dia mais feliz da vida seria o primeiro em que vendesse mais um exemplar que o Expresso. Nunca o conseguiu. Acabou a fundar o PP, lixar o PSD e a ser ministro.
Saraiva vai mais longe que Portas pois promete estar à frente do Expresso “desde o primeiro número”, conforme vem hoje transcrito no DN.
Saraiva lá sabe. Sabe o que fazia. O que o deixavam fazer. O que quer fazer.
Nós não. Nada sabemos. Ficamos para ver.
Com cores garridas, o novo “Sol” quer apagar o cinzentismo do Expresso.
Para já o Expresso mostra medo e aparecerá nas bancas mais barato, com novo conceito editorial acompanhado de novo grafismo e formato - abandonando de vez o broad-sheet, marca dos jornais de referência (prenúncio?).
Conseguirá Saraiva? O “Sol” custará 2 euros.

As alsas do Jerónimo


De forquilha em riste, o verdadeiro Satanás foi uma das figuras de topo na última Festa do Avante ao lado de Luís Filipe Vieira e Marcelo R. de Sousa... o quê?
É quem? O Jerón...!?
Mudança de Notícia:
Eis o camarada Jerónimo de camisola de alsas amarelas, luvas e forquilha, a trabalhar para um esforço colectivo chamado Festa do Avante.
Assim se educa classe operária… E diziam eles que não gostavam de marketing político. Foto de João Relvas/Lusa