quinta-feira, setembro 07, 2006

Derrubar espanhóis


“A essência da Língua é o som. Vou falar em português. Se não perceberem o que vou dizer, pelo menos oiçam o som".
A frase é de Eduardo Lourenço e antecedeu o discurso proferido ontem em Badajoz no Museo Extremeño e Iberoamericano de Arte Contemporáneo.
As cerca de mil pessoas, a esmagadora maioria espanhóis, levaram com meia hora de discurso do grande ensaísta português.
Puxaram dos leques. Torceram-se nas cadeiras. Começou a ouvir-se um burburinho. Havia nos seus rostos traços de angústia. Impenetrável Lourenço embalava as palavras, dissertando sobre a dimensão cultural da Europa e afirmando acreditar na cultura como amplo espaço de liberdade universal.
Um discurso poderoso. E bonito. Os espanhóis, entediados, não o perceberam. Mas gramaram-no até ao fim (ganda Lourenço).
Entre os jornalistas portugueses ia-se comentando que nunca um português tinha dominado tanto espanhol só com... palavras.

Em Badajoz, Eduardo Lourenço, filósofo, ensaísta, escritor, recebeu das mãos de Juan Carlos Rodriguez Ibarra, presidente da Junta da Extremadura (Espanha) o PREMIO A LA MEJOR TRAYECTORIA LITERARIA DE AUTOR IBEROAMERICANO. Um prémio que volta a falar português depois das distinções ao poeta Eugénio de Andrade (2000), Manoel de Oliveira (2003) e ao cantor brasileiro Gilberto Gil, no ano passado.
Talvez Eduardo Lourenço seja, a par de Agostinho da Silva, o grande pensador português do século XX. Lourenço continua em grande actividade – hoje mesmo é publicada na revista Visão o olhar do ensaísta sobre os cinco anos passados sobre os ataques do 11 de Setembro.
Ontem em Badajoz comprovou-se a pujança do professor.

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